O estudante Marcelo Eduardo Bovo Pesseghini, 13, foi influenciado por uma série de fatores que os levou a matar os pais, a avó e a tia-avó e cometer suicídio. As informações são do laudo psicológico sobre o crime, que faz parte do inquérito do caso, ao qual a Folha teve acesso.
O laudo psicológico do IC (Instituto de Criminalística) cita a culpa dos próprios pais por burlar leis e incentivar Marcelo a cometer atos ilegais. O sargento da Rota (tropa de elite da PM) Luís Marcelo Pesseghini, 40, teria ensinado o menino a manusear armas. A mãe, a cabo do 18º batalhão de Polícia Militar Andreia Regina Bovo Pesseghini, 36, teria ensinado o garoto a dirigir.
Antes de matar os pais, filho de PMs disse que não gostava de histórias com finais tristes
De acordo com a análise, esse conjunto de fatores prova a ausência de regras, "que primeiramente deve ser imposta pelo pai, que segundo a psicanálise é a lei".
Médicos chegaram a estimar que o garoto vivesse até os 4 anos devido a uma fibrose cística --doença degenerativa que ataca principalmente os pulmões e sistema digestivo. Posteriormente, afirmaram que, possivelmente, não chegasse aos 18.
Devido à doença, o menino era proibido pelos pais de brincar na rua e de sair com os amigos, o que o irritava.
O laudo aponta que vários fatores levaram o menino a ter um surto psicótico e cometer a sequência de assassinatos. Marcelo era um menino "de poucos amigos, que passava horas jogando videogame, especialmente o violento 'Assassins Creed'", no qual o personagem principal é um assassino de aluguel. No jogo, entretanto, se o jogador matar pessoas inocentes poderá ser punido, segundo o laudo.
Menino desenhou trajeto, com ponto de referência, entre a casa onde morava e a escola
Anotações de Marcelo Pesseghini
De acordo com a conclusão psicológica, os pensamentos de se tornar um matador de aluguel passaram a se tornar persistentes, confundindo a realidade com a fantasia.
MATAR A DIRETORA
Segundo o laudo, esse conjunto de fatores foram decisivos para que o menino tivesse motivos para matar a família e cometer suicídio. Entretanto, o garoto ainda poderia ter assassinado outras pessoas.
Segundo a análise, a intenção dele era se ver livre de todos que o oprimiam. Um vídeo que mostra o menino chegando à escola após matar os pais demonstraria que ele teria encarnado o personagem matador, o que "ficou certificado através de passadas largas."
O laudo explica que isso prova que ele ainda tinha a intenção de matar alguém que, segundo as investigações da Polícia Civil, seria a diretora do colégio Stella Rodrigues, na zona norte da capital paulista. Amigos do garoto relataram à polícia que ele já havia relatado por diversas vezes a intenção de matar a família.
"ROTA É FODA"
Um dos laudos mostra um relatório de conversas entre Marcelo Pesseghini e uma prima dele no dia 13 de maio deste ano. As informações foram apreendidas no tablet do menino.
O garoto interrompeu o discurso duas vezes com a frase "rota é foda". Na primeira delas, há uma grande repetição das consoantes para dar uma entonação de grito à frase.
A garota respondeu à primeira mensagem com a mensagem "oi filho vc está bem?". Minutos depois, a menina disse diversas vezes que o amava, sem obter resposta.
O garoto volta a dizer "rota é foda", e a menina diz que ele era "fofinho da priminha", que é respondida: "não é nada fofo".
O comandante-geral da PM, Benedito Roberto Meira, disse que Marcelo costumava ir ao batalhão da Rota com o pai, mas não tinha históricos de violência na escola.
Familiares de Marcelo tiveram acesso ao conteúdo dos nove laudos da perícia sobre o caso. A apresentação dos documentos sobre o crime foi feita por policiais do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), que investigam o caso. Entretanto, a família ainda não acredita que o menino tenha cometido o crime.
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De acordo com a principal linha de investigações, Marcelo matou a família, dirigiu com o carro dos pais até a escola, frequentou as aulas de manhã e retornou para casa de carona. Na sequência, ele se matou.
A Polícia Militar disse que investiga também a acusação de que Andreia teria sido convidada a participar de roubos a caixas eletrônicos. A informação foi dada pelo deputado estadual Olímpio Gomes (PDT), major da reserva da PM. Ele denunciou o caso à Corregedoria da corporação.
Luis Marcelo Pesseghini, 40, pai do menino, era sargento da Rota. A mulher dele, Andreia, 36, era cabo do 18º Batalhão. As outras vítimas moravam na casa nos fundos: a mãe e uma tia de Andreia, de 65 e 55 anos.
A casa onde a família foi morta não teve a cena de crime totalmente preservada. A informação consta de nota divulgada na terça-feira (13) pela Secretaria da Segurança Pública de São Paulo.
"O departamento [Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa, DHPP] apenas confirmou afirmação da imprensa de que o local 'não estava totalmente idôneo'. Isso, evidentemente, não quer dizer que houve violação proposital da cena do crime", diz o texto.
Sebastião de Oliveira Costa, 54, parente das vítimas, disse que chegou à casa às 17h45 do dia 5 e que havia ao menos 30 PMs dentro dela, antes da chegada da perícia.
Peritos constataram nessa semana que os disparos poderiam ser ouvidos a 50 metros da casa da família. Nenhum vizinho, no entanto, disse ter ouvido os disparos.