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Mostrando A verdade que a mídia não mostra - NÃO SEJA MASSA DE MANOBRA. PENSE, QUESTIONE E ANALISE.SAIA DA MATRIX ! Porque o mundo não é como nos contaram, a história foi modificada, a música, o cinema, a política, o esporte, a igreja, os alimentos, tudo está no domínio deles, até o CLIMA.
Síndrome do Pânico – a mentira dos laboratórios
Texto de Paulo Urban (*), publicado na revista Universo Espírita, edição 46, setembro/2007
(*) Paulo Urban é médico psiquiatra e Psicoterapeuta do Encantamento.
Diretor Clínico do Hospital Psiquiátrico ‘Casa de Saúde de São João de Deus’, São Paulo, de 1994 a 2000.
Formei-me
há 18 anos, em 1989. Presumo, pois, tenha alcançado somente agora a
“maioridade” nesta minha profissão, a de médico psiquiatra. Ao menos,
posso hoje colher os resultados de alguma experiência clínica, algo mais
consistente à arte de diagnosticar do que o mero olhar transversal
diante dos sinais e sintomas com que as doenças nos desafiam a
compreendê-las.
O Pânico
caracteriza-se por uma crise generalizada de ansiedade, cujo
aparecimento é súbito, sem um claro fator desencadeante. Por incidir
abruptamente, usa-se o termo “ataque de pânico” para designar os
episódios de suas crises, que extrapolam a ansiedade comum e trazem
consigo um ar de catástrofe. Os ataques costumam ser intensos e
passageiros, mas podem prolongar-se por algumas horas e trazem à tona um
medo não específico; os que se deixam vitimar por ele temem morrer,
perder o controle sobre seus atos ou enlouquecer. Um quadro assustador!
Seu mal-estar
reúne um conjunto de sintomas físicos e emocionais que lhe são
próprios; daí o nome síndrome. O Pânico se instala com palpitações e
taquicardia, a respiração torna-se mais curta e mais rápida e advém um
sufocamento; o corpo é tomado por estremecimentos, há sudorese, rubores e
calafrios. Pode haver náusea, desconforto abdominal, dormências,
vertigens, sensação de iminência de desmaio; outros fenômenos podem
surgir, variando conforme os indivíduos.
O termo pânico
provém de Pã; de todas as divindades gregas, sem dúvida é a que mais
fortemente guarda seu caráter animal, seu estado instintivo. Pã é meio
humano, meio bestial, tem chifres e patas de bode, é barbudo e peludo,
dotado de horrenda expressão. Sua extrema feiúra é útil para afugentar
os ladrões de rebanhos dos montes e vales da Arcádia, região sob sua
proteção. A tradição mais corrente considera Pã filho de Hermes com a
ninfa Dríope. Rejeitado pela mãe, o recém-nascido teria sido levado pelo
pai para viver com ele no Olimpo, onde se tornou motivo de alegria,
dado a seu jeito brincalhão. Os deuses viram nele um sentido a mais para
vida e o batizaram de Pã, que significa “tudo”, o que faz dele também
um símbolo de esperança e de fecundidade. Junte-se o significado de seu
nome ao pavor que sua presença inspira, e melhor entenderemos o
significado dos termos “pane” ou “pânico”; haja vista o terror que toma
tudo e a todos que estão a bordo sempre que um avião está avariado.
Antes dos anos 80,
porém, tal doença nem existia. Enquanto cursava a faculdade, pude
acompanhar o furtivo nascimento do Pânico. Ora, como pode ser isso? Quer
dizer que algumas doenças, das quais até então nada se sabia, de
repente, são paridas? Infelizmente, isso ocorre. Transtornos
psiquiátricos os mais diversos continuam a nascer em nossos dias. Certas
patologias vêm ao mundo conforme renomadas universidades as anunciam,
numa prática direta ou indiretamente atrelada aos interesses dos
laboratórios farmacêuticos, em seu desenfreado atropelo da saúde, a fim
de garantir seus titânicos lucros econômicos.
Ao longo de todo
o meu curso de graduação, as drogas largamente usadas no tratamento das
depressões eram os chamados “antidepressivos tricíclicos”, cujo nome
diz respeito à sua estrutura molecular. Sintetizados a partir da década
de 60, eram o primeiro considerável avanço no manejo farmacológico das
depressões, que desde os anos 50 vinham sendo obrigatoriamente tratadas
pela única classe de antidepressivos existente, os chamados IMAO
(inibidores da monoaminoxidase). A terapêutica com IMAO, contudo,
envolvia uma série de restrições alimentares que, se desrespeitada,
podia causar nos pacientes a chamada “síndrome adrenérgica”: cefaléia,
hipertensão, rigidez de nuca e dor torácica, decorrentes de uma
intoxicação metabólica. Isto porque a monoaminoxidase, cuja ação é
inibida pelo remédio, é uma enzima envolvida na degradação da tiramina,
substância presente, sobretudo, nos queijos, carnes defumadas e nos
vinhos. Portanto, a nova classe de antidepressivos tricíclicos, que se
podia tomar livre das dietas, conquistou o mercado. Foi assim que a
clomipramina (cujo nome comercial – Anafranil – por questão histórica
precisa estar aqui citado) logo se tornou a principal arma contra as
depressões, e seu uso se alastrou com enorme rapidez pelos continentes.
Os produtores do
Anafranil estavam cientes, porém, de que sua hegemonia estaria em breve
ameaçada. Desde 1974, uma empresa química concorrente pleiteava junto à
FDA (Food and Drugs Association) a aprovação de um potente
antidepressivo: o cloridrato de fluoxetina, cuja ação farmacológica, até
então inédita no tratamento das depressões, inibia seletivamente a
recaptação da serotonina (um neurotransmissor), prolongando assim sua
presença nas sinapses (espaços virtuais entre os neurônios), o que ajuda
a melhorar o humor. O Prozac (segundo nome comercial que nos interessa)
foi o pioneiro desta nova família de antidepressivos e sua aprovação
pela FDA deu-se precisamente em 1987.
Lembro que
em 1989 o Prozac entrava no mercado brasileiro, sustentado por uma
ostensiva campanha publicitária direcionada aos médicos, que alardeava o
fim das depressões. A expectativa sempre depositada sobre as novas
drogas provocou um extraordinário aumento de prescrições de Prozac.
Raros não se deixaram levar pelas promessas prozaquianas, respaldadas
por trabalhos científicos – patrocinados, é claro, pelo laboratório
interessado – que apontavam estatisticamente as vantagens dos
“inibidores da recaptação de serotonina” em comparação com os
repentinamente ultrapassados tricíclicos.
Tal a prepotência
com que o Prozac se imiscuiu em nosso meio que, antes que curasse as
depressões, provocou uma “lavagem cerebral” no pensamento clínico da
época. Logo se deu um excesso de falsos diagnósticos de depressão,
motivados pelo frenesi dos que queriam tomar ou prescrever a nova droga,
cujo preço, por sinal, era elitista.
O ator e cineasta
Woody Allen, neurótico confesso, que por essa época se submetia a
sessões de psicanálise todos os dias da semana, mantendo a seu dispor
renomados psicanalistas em vários países do mundo, dispostos a atendê-lo
durante as suas filmagens, foi um dos que primeiro viu na fluoxetina a
sua salvação. Admito que os interesses da indústria farmacêutica não
tenham tido a idéia de comprar os seus serviços, mas o fato é que,
surpreendentemente, Woody Allen passou a ser o maior garoto propaganda
da nova droga, citando seu nome comercial com repetido entusiasmo em
vários de seus filmes, fazendo do Prozac um notável astro de cinema. O
remédio se tornou sinônimo de status e passou a ser chamado de “a pílula
da felicidade”.
Ora, com Hollywood
inopinadamente patrocinando a causa da fluoxetina, a indústria dos
tricíclicos, que há quase 30 anos nadava nos lucros, viu-se ameaçada de
morrer afogada em sua enorme produção, cujo destino seria mofar nas
prateleiras das farmácias, pondo a perder os bilhões de dólares em jogo
nas bolsas de mercado futuro. Afinal, o Prozac prometia realizar uma
mágica que nenhum psicoterapeuta jamais soubera executar, a de eliminar
para sempre de nossas vidas o descolorido da tristeza.
Por conta disso,
nos Estados Unidos, uma horda de processos foi logo aberta contra
vários psiquiatras, acusados de enganar seu pacientes, uma vez que tendo
diagnosticado neles a depressão, propunham-se a tratá-los por meio de
outras técnicas e psicoterapias, cujos resultados eram lentos, quando
existia no mercado uma droga capaz de acabar com ela. Instaurou-se assim
uma moderna caça às bruxas. A Justiça estadunidense levou à fogueira
inúmeros médicos; vários tiveram seus registros profissionais cassados.
Um verdadeiro non sense, próprio de uma sociedade decadente que há muito
já perdeu seu rumo. Houve quem vivesse o pandemônio de ter que explicar
judicialmente o porquê de não ter preferido usar a fluoxetina em
tratamentos que tinham se iniciado quando ela ainda nem existia! Hoje em
dia, vários dos médicos que tiveram sua reputação abalada estão
reabrindo os velhos processos, e alguns têm conseguido vultosas
indenizações, ainda que os danos morais tenham sido traumáticos.
O primeiro golpe
contra a fluoxetina foi a publicação de uma série de trabalhos
científicos (patrocinados pelos laboratórios concorrentes) que
evidenciavam um incremento dos índices de suicídio entre os usuários do
Prozac. O remédio chegou a ter sua carreira artística provisoriamente
proibida, afinal, sua eficiente ação farmacodinâmica realmente levantava
o moral dos enfermos, mas como para a maioria dos deprimidos graves
continuava a prevalecer a angústia e a estreiteza de campo vivencial
frente aos desafios da existência, muitos destes concluíram que
depressão alguma valia a pena, e que o melhor a se fazer era
simplesmente acabar com a vida. Com o humor significativamente melhorado
pelo efeito bioquímico, os pacientes encontravam ao menos a força
necessária para sair da completa apatia e cometer o suicídio. Mas o uso
do Prozac logo seria novamente liberado, mediante a publicação de outros
trabalhos científicos, patrocinados já sabemos por quem, que
relativizavam seus efeitos colaterais bem como o suposto aumento das
taxas de suicídio.
Tornou-se assim
urgente que os fabricantes da droga concorrente pusessem em ação o
plano que há alguns anos traziam bem guardado. O extraordinário tinha de
ser feito, algo que lhes permitisse uma sobrevivência até que as coisas
se acomodassem mais a frente, quando a realidade, acima de todas as
promessas ilusórias, falaria por si, fazendo ver a médicos e pacientes
que o Prozac, como qualquer outro antidepressivo, tem ação específica e
limitada; se por um lado melhora certas condições clínicas, por outro
traz consigo uma série de efeitos colaterais.
Era preciso,
pois, encontrar uma maneira de desaguar a clomipramina, de modo que não
se estagnasse sua alucinada linha de produção. Pois bem, curiosamente
atendendo aos interesses dos fabricantes dos antidepressivos
tricíclicos, convocou-se nos Estados Unidos, em 1983, em caráter
extraordinário, um novo encontro da American Psychiatric Association
(APA), cujos membros, pertencentes às principais universidades do país,
formam um colegiado responsável pela formulação dos assim chamados
Diagnostic and Statistical Manual (Manual Diagnóstico e Estatístico), ou
DSM. Tal publicação procura de tempos em tempos reclassificar as
doenças e estabelecer suas bases diagnósticas, segundo critérios que
envolvem várias tabelas e uma crua somatória de sintomas, próprias de um
pensamento raso, validado por todas as escolas médicas do resto do
mundo que se mantêm ideologicamente atreladas à psiquiatria
estadunidense.
O DSM-I data de 1952.
O DSM-II atualizaria o primeiro dali a 16 anos, em 1968; e o DSM-III
seria publicado 12 anos mais tarde, em 1980, ampliando e atualizando as
classificações das patologias feitas no DSM-II. Já o DSM-IV, conferindo a
média, só foi publicado em 1994.
Por que então
a pressa da APA em revisar o recém-publicado DSM-III, passados somente
três anos de sua publicação? Qual razão oculta teria poder para convocar
extraordinariamente todo um colegiado médico? Qual o grave equívoco a
ser reparado? Ora, os produtores da fluoxetina, desde 1974 pressionavam a
FDA para ver aprovado o Prozac. Os laboratórios concorrentes, antevendo
aí uma concreta possibilidade de falirem, trataram de fabricar a mágica
que manteria por mais uma década a fabulosa venda dos antidepressivos
tricíclicos. Nasceu assim a Síndrome do Pânico. Ela foi propositadamente
incluída no DSM-III-R (“R” de revised, revisado), entre outros
acréscimos e correções de somenos importância que juntos compunham um
disfarce para os reais motivos a patrocinar esse evento.
A “revisão” do DSM
encerrou-se em 1983. Embora muitos alegassem seu caráter de urgência, o
fato é que o DSM-III-R restou mantido sob custódia acadêmica até 1987,
sendo publicado justamente quando ocorria a aprovação do Prozac pela
FDA. Coincidência ou estratégia?
Neste ponto
os leitores, principalmente os que já se viram vitimados por essa
síndrome, estarão se perguntando: mas como pode ser o Pânico uma mera
invenção se ele é algo real que me aflige? Ora, não estou aqui negando
sua ocorrência, conforme disse de início. O fato é que ela nada mais é
que uma roupagem nova encontrada pela psiquiatria estadunidense para o
clássico quadro de neurose de angústia, conforme minuciosamente descrito
por Freud (1856-1939) em ‘A Neurastenia e a Neurose de Angústia’,
publicado em 1895, um século antes da “cobra criada” pela APA.
Desde 1893,
percebe-se pela correspondência trocada com o médico Wilhelm Fliess
(1858-1928), que o pai da psicanálise já se preocupava em separar a
neurose de angústia dos demais quadros neuróticos, como a histeria e a
neurastenia, por exemplo. Freud explica: “Damos a esse complexo de
sintomas o nome de neurose de angústia, pela circunstância de que todos
os seus componentes podem ser agrupados em torno de um principal, que é a
angústia”. Freud explora detalhadamente toda a sintomatologia
relacionada à angústia, buscando classificá-la em suas diversas formas,
entre outras a angústia crônica, a espera ansiosa, o pavor noturno e os
ataques de angústia. Estes últimos, bem caracterizados por Freud, item
por item, do “a” ao “i”, numa listagem completa de sintomas: palpitações
e taquicardia, arritmias breves, perturbações da respiração, que se
torna ofegante; ataques de suor, disfunções intestinais, vertigens e
tonturas, tremores e convulsões motoras, parestesias, sensação de
desmaio iminente por ação vasomotora. Sintomas estes, todos cruamente
copiados pelo DSM-III-R como os principais critérios para diagnóstico do
Pânico. Estão todos lá, basta conferir!
Em seguida Freud
cita algumas fobias próprias do ataque de angústia e se detém a
comentar o grupo das agorafobias (medo de espaços abertos) e suas
espécies secundárias. Sem sequer citar a fonte, o DSM-III-R faz
igualmente constar logo após a descrição da Síndrome de Pânico, uma
tabela pela qual se caracteriza o Distúrbio de Pânico com Agorafobia.
Falta à APA saber pensar a clínica ou é mero caso de apropriação
intelectual indébita, própria de um país onde a Justiça já perdeu seu
rumo?
No Brasil, a Síndrome do Pânico
foi apresentada ao povo ao longo de três domingos consecutivos, em
horário nobre, quando milhões de pessoas tinham por costume assistir a
um programa que, contrariando a regra comum, há mais de 30 anos está no
ar na mesma emissora. No primeiro domingo apresentou-se a temível doença
do Pânico, no domingo seguinte os repórteres colheram depoimentos de
pessoas que sofriam desse mal, dando veracidade à matéria anterior e,
para então salvar o mundo da histeria coletiva da nova epidemia que já
se alastrava pelos consultórios e hospitais do país, o terceiro programa
deu voz a um médico que, do alto de seu douto saber nos ensinou a todos
que nada tínhamos a temer diante da Síndrome do Pânico, seu tratamento,
conforme preconizado pela APA, era simples: Anafranil 25mg, dose única
diária. Não é fantástico?
Passados alguns
congressos em que o Pânico era o astro, como os 25mg não resolveram a
angústia nossa de cada dia, passou-se a receitar 50mg ao dia, em duas
doses de 25mg e, meses mais tarde, a dose diária de 75mg, em três
tomadas. Tão lucrativo estava vender clomipramina que seus fabricantes
resolveram facilitar a vida de seus clientes, colocando então no mercado
comprimidos de 75mg. Mas nem assim o Pânico foi curado. Por essa época,
ai do herege que receitasse qualquer outra droga que não o Anafranil
diante de um caso de Pânico; seria execrado por contrariar os manuais de
conduta médica.
Em nossos dias,
passada a febre ditatorial acadêmica sob a “descoberta do Pânico”, e
com “outras novas doenças” querendo disputar a mídia, qualquer
prescrição contra o Pânico pode ser usada, sem que os médicos
responsáveis por elas venham por isso ser taxados de temerários. Há até
quem aconselhe a tratar o Pânico com neurolépticos em vez de
antidepressivos ou ansiolíticos; hoje vale usar até mesmo o velho
Prozac.
De meu lado,
em toda minha clínica nunca precisei diagnosticar o Pânico. Nem nunca
me propus a curá-lo por meio de remédios, senão, quando preciso, aliviar
em algum nível seu mal-estar por meio bioquímico. Prefiro reconhecer a
psicodinâmica da neurose de angústia a crer que um agregado de tabelas
modernas com somatórias de sintomas possa dirigir meu diagnóstico. A
propósito, as medicações psiquiátricas não curam coisa alguma. Elas são
úteis nos tratamentos das psicoses e neuroses, ajudam realmente a
melhorar ou equilibrar certos estados graves de humor, mas seu uso deve
ser sempre o mais discriminado possível. E ainda não nasceu uma droga
capaz de acabar com a angústia, em que pesem as profecias do pensamento
neurocientífico.
Segundo a psicanálise,
a neurose de angústia encontra-se fundamentada sobre o acúmulo de
tensão da libido, para Freud algo de natureza estritamente sexual. Na má
resolução ou insuficiência dessa energia estaria a origem dos ataques
de angústia. Procurando provar sua tese, Freud argumenta que os sintomas
dos ataques, guardadas as suas proporções, estão igualmente presentes
no coito, quando o nosso coração dispara, tornamo-nos ofegantes,
apresentamos tremores, calafrios, suores etc…
A partir dos anos 30
do século XX, surgiu um novo pensamento clínico, de base
existencialista, que trouxe um aprofundamento à questão. Os
existencialistas consideram que a condição humana só se pode conhecer
pela experiência da angústia, mais claramente presente sempre que somos
chamados a exercer o arbítrio, a escolher entre isto ou aquilo; afinal,
toda escolha gera dor.
Indo além,
por trás de todo ataque de angústia, em última análise, mora a idéia
que menos nos agrada, em verdade nossa única certeza, a certeza da
morte. Por isso, diz-se que a angústia genuína é vital. Em suma, atrás
do ataque de pânico, esconde-se o fantasma da morte. Qual remédio pode
exorcizá-lo?
Preso à sua
angústia essencial, o ser humano tende ao desespero, e sua vida pode
mesmo transformar-se num inferno, sendo o pânico nada mais que a
somatização irracional daquilo que sempre é, em última instância, o medo
que temos da morte. Para sair do desespero, único caminho sensato,
longe das muletas farmacológicas, é o do auto-conhecimento.
Quanto mais distante
esteja o homem das fórmulas bioquímicas e mais perto se coloque de si
mesmo, mais poderá encarar o escuro de seu mundo interior. Só
vivenciando a angústia, jamais fugindo dela, é que poderemos encontrar
caminhos mais luminosos que façam a alma respirar melhor diante da
opressão da realidade cotidiana. Por isso entendo que todos os pacientes
tratados simplesmente por medicamentos, quando melhoram do chamado
Pânico, não o fazem pelo efeito dos remédios, senão porque passados
tantos anos de convívio com a doença, descobrem recursos próprios mais
eficientes, com os quais aprendem a suportar melhor a carga da
existência. Assim como os deuses viram em Pã um sentido para a vida, as
crises de Pânico nos fazem provar de nosso “todo” emocional, e nos levam
a enxergar pontos vitais que, se bem trabalhados, nos levam ao
crescimento pessoal.
Psicoterapia,
meditação e práticas vivenciais terapêuticas como a hiperventilação,
por exemplo, são nossas melhores chances contra o pânico; não obstante
jamais possam eliminar toda a angústia, nos ensinam a lidar melhor com
ela, fazendo da vida uma experiência mais saudável. É preciso mergulhar
fundo em nosso mundo emocional para resgatar de nosso âmago a semente de
felicidade perdida, que laboratório químico algum do mundo irá
sintetizar um dia.
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