
Em um discurso em
Roma na Agência de Pobreza Rural da ONU, Bill recomendou investimentos
tecnológicos para combater a fome, mas novamente de forma equivocada.
Novamente Gates teve uma atitude digna quando diz se preocupar com a
desgraça da fome, mas erra feio na implementação, principalmente quando
se sabe que a
Fundação Bill e Melinda Gates é uma grande acionista da Monsanto e parceira da
Cargill, uma das maiores empresas de
commodities alimentícios do mundo (alimentos como mercadoria especulativa na bolsa de valores).
[7]
Bill Gates deixa claro: combate à miséria é obrigatório aceitar Organismos Geneticamente Modificados (OGM) [2].
O grande desastre disso é ocorrer o que aconteceu em outras partes do
mundo: dependência tecnológica, privatização de estrutura genética de
organismos vivos, aumento da dependência de agrotóxicos, desastre
ambiental e social. Tudo isso sempre com empresas privadas duvidosas,
envolvidas em escândalos, corrupção e outras terríveis ações, no meio de
tudo.
Bill & Melinda Gates Foundation.
Não é de agora que sabemos dos males dos
OGM na base da alimentação, na base do mantenedor da vida e da
sociedade, principalmente em lugares pobres. Na Índia, por exemplo,
aconteceu uma caso notório de introdução de OGM na base da sociedade.
Resultado? Desastre! Lá Organismos Geneticamente Modificados vindo da Monsanto
magicamente iriam resolver o problema da produção. Foi o que eles
falaram. Monsanto garantiu que as sementes modificadas deles iriam
resolver tudo. E o que aconteceu foi uma calamidade. Regiões onde se
plantava há 5 mil anos agora estavam dependente de patentes da Monsanto,
que detém 90% da propriedade intelectual sobre essa biotecnologia. Não
só de sementes, que se espalharam por todos os cantos
indiscriminadamente, mas dos agrotóxicos, que são de uso casado. Se você
compra sementes da Monsanto terá que usar defensivos deles,obrigatoriamente.
O custo da plantação aumentou, a
dependência ficou irreversível e os resultados eram um fracasso. Os
pessoas foram levadas pela propaganda da mágica dos OGM, pela propaganda
da Monsanto, e colheram desespero, tanto que o número de suicídio
aumentou muito na região devia à dívidas resultante da empreitada da
Monsanto na região. A Monsanto com seus Organismos Geneticamente
Modificados foi responsável por uma das mais notórias catástrofes da
história da biotecnologia. E não parou por aí. A Monsanto fez isso em
outros países da Ásia, praticando inclusive corrupção ativa para fazer
todos ficarem dependentes de seus produtos. [3]
Fundação Gates e Monsanto são parceiras. A fundação de Bill Gates é uma grande acionista da empresa.

“O lado ambiental o OGM é cruel.
Desastres são preocupantes no cultivo com OGM. As culturas transgênicas
podem ter uma vantagem competitiva em relação às plantas nativas
silvestres, dificultando sua capacidade de sobrevivência. Além disso,
insetos benéficos e outras formas de vida silvestre podem ser ameaçados
pelas culturas transgênicas que produzem seu próprio inseticida ou por
culturas que requerem uso mais intenso de agrotóxicos”, aponta o
documento do Greenpeace.
[4] O caso indiano anterior
mostrou algo que constantemente acontece. Os insetos, fungos e ervas
daninhas “criam” resistência dos defensivos que são obrigados a passarem
(e comprarem da empresa dona da patente das sementes). O resultado é um
aumento na quantidade de agrotóxicos que gera um ciclo vicioso pois
cada vez menos os defensivos fazem efeitos. É um desastre econômico e
ambiental.
No mesmo documento da entidade
ambientalista acima citada é afirmado: “O pior ainda é o custo para a
saúde. Alimentos produzidos a partir de algumas culturas transgênicas
podem prejudicar seriamente o tratamento de doenças. Isso se deve ao
fato de muitas variedades transgênicas conterem genes resistentes a
antibióticos. Se esses genes se transferirem para bactérias patogênicas,
eles poderiam torná-las imunes aos efeitos do antibiótico, contribuindo
ainda mais para a disseminação de bactérias resistentes aos
antibióticos comuns. Alimentos transgênicos podem aumentar o risco de
alergias graves e até fatais. Muitas pessoas são alérgicas a alimentos
produzidos com determinadas plantas devido a proteínas contidas neles.
Evidências sugerem que culturas transgênicas apresentam um potencial
alérgico ainda maior que as culturas tradicionais.” [4]
O discurso dos OGM, o discurso de Gates, é idêntico ao da Revolução Verde,
que iria contribuir para acabar com a fome no mundo. A Revolução Verde,
pós Segunda Guerra, realmente aumentou e muito a produção e a qualidade
dos alimentos. A tecnologia para a área foi peça necessária para
ocorrer o aumento vertiginoso na produção e oferta. De acordo com a FAO,
Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, a
produção de carnes, crustáceos, moluscos, grãos e cereais, base da
alimentação mundial, subiu de 100 a quase 300%. Acabamos com a fome no
mundo? Não, muito pelo contrário. O número de miseráveis mortos,
literalmente, de fome é alarmante. [5]
Gates está muito equivocado se acha que
combater a fome é produzir mais, é privatizar o patrimônio genético da
base da alimentação dos povos, é introduzir uma espécie estranha sem
saber os resultados ferindo completamente o Princípio da Precaução [6].
Bill Gates está certo sim em se preocupar com o flagelo, mas o
investimento não deve ser feito em Organismos Geneticamente Modificados.
Pior ainda é fazer tudo isso em parceria com a Monsanto. Sim, a Fundação Bill e Melinda Gates é uma grande acionista da Monsanto [7],
como falei mais acima, e é muito questionável o interesse da Fundação
Gates em combater a fome com OGM, OGM de uma das empresas com piores
históricos do planeta, famosa por produzir armas químicas, toxinas
letais e deixar regiões onde entram uma calamidade. Críticos afirmam que
o objetivo da Monsanto é dominar sobre as sementes mundiais,
extinguindo todas as não-transgênicos, as que não são de propriedade da
empresa.
E se não bastasse a Monsanto no portfólio de investimentos da fundação de Bill Gates, eles ainda tem como parceira a
Cargill [7], uma das maiores empresas de
commodities alimentícios
do mundo, cujo interesse, além de produzir, é ter alimentos como
mercadoria especulativa em bolsas de valores, para aumentar seus lucros e
o controle sob os alimentos – Cargill (EUA), junto com outras poucas
empresas como Bunge (EUA), Archer Daniels Midland (EUA), Louis Dreyfus
(França) e Marubeni (Japão) controlam 90% do mercado de grãos do
planeta, base da alimentação do mundo. Esse tipo de ação é responsável
por uma tragédia humanitária tremenda, fazendo os preços dos alimentos
dispararem de maneira assustadora, jogando milhões dentro da fome
extrema.
[8] A empresa ainda tem sério histórico de
devastação do meio ambiente, aqui mesmo no Brasil, invadindo à Amazônia
para fortalecer o agronegócio da soja.
[9]
Então a proposta de Bill Gates está
muito mal explicada. Como ele quer investir no combate à fome com esse
conflito de interesses, essas parcerias estranhas com Monsanto e
Cargill?
Como deveria ser feito
Não sei se estou sendo muito ingênuo, mas acredito que os espantosos investimentos em empresas desprezíveis feito pela Fundação Bill e Melinda Gates
não sejam feitas premeditadamente, com intuito de prejudicar pessoas,
nem mesmo ganhar ganhar dinheiro através de uma entidade sem fins
lucrativos. Acredito que realmente eles estejam fazendo tudo isso
pensando que o bem está sendo feito. No entanto, obviamente, nem sempre
eles fazem o bem, chegando até acontecer situações estranhas como a que
está acontecendo entre Fundação Gates, Cargill e Monsanto.
O problema, creio eu, está no
entendimento que investimento no ser humano não é como investir no lucro
de empresas. Essas pessoas que estão na administração da fundação, o
grupo de trabalho e a família Gates, não entenderam ainda que por mais
difícil que seja nada nesse setor pode ser feito sem análise de efeitos.
Investimentos feito pela fundação de Gates são louváveis e a intenção
do fundador da Microsoft é de se admirar muito. Pessoas assim deveriam
existir às pencas. Entretanto o questionamento de como isso é feito
sempre deve ser criticado quando vai de encontro o que a intenção. Todos
nós agradecemos o que Bill Gates está fazendo, mas quando feito de
maneira errônea o dever é sempre corrigir para que efeitos secundários
não venham destruir tudo o que está sendo feito de bom.
Nessa última declaração, sobre as
questões da fome, o alvo para ataque deve ser nas consequências das
atitudes humanas que estão modificando o clima, o alvo deve ser a
política colonialista e predatória das grandes potências, que pouco
fazem para combater a desigualdade, que pouco fazem para criar
mecanismos de crescimento econômico e humano e que muitas vezes até
compactuam, por interesse próprio, com sistemas políticos criminosos. O
alvo também deve ser também o lobby criminoso e a política de grandes
empresas que estão destruindo toda uma estrutura social e econômica –
Monsanto, parceira da Fundação Gates, é uma dessas empresas que destroem
o mundo.
E as pessoas? Esperarão, morrendo, até
que isso mude? Não. Tecnologia alimentar então deve ser proposta, mas de
modo muito mais simples, sem os evidentes problemas dos OGM e com uma
política de distribuição eficiente não só de alimentos mas de recursos,
nos moldes do tão aclamado mundialmente Bolsa Família – que distribui
renda para situações extremas e onde há dinheiro há oferta de comida -,
que tirou tantas pessoa da linha da pobreza. É possível até investir em
formas alternativas, mais baratas e eficientes de tecnologia de produção
alimentar, que nunca criariam dependência, que nunca privatizariam a
vida vegetal, que não afetariam a fauna, flora e a estabilidade natural.
É possível investir na criação e desenvolvimento de formas
sustentáveis, baratas e simples.
Tecnologia eficiente nem sempre é feita
em laboratórios caros, com muitos elementos químicos, moléculas e DNAs.
Nem muito menos fazendo parcerias com empresas duvidosas (para não dizer
criminosa), como a Monsanto. Muitas vezes investir na tecnologia
simples, que é de fácil acesso, é melhor e há inúmeros exemplo que isso é
verdade. A água, por exemplo, que é essencial para a vida na Terra, é
uma das que mais matam. Soluções acessíveis são possíveis, sem nada de
componentes eletrônicos, mas que não deixam de ser tecnológicos. Um
simples filtro de barro, para ter uma ideia, já ganhou espaço nos
projetos humanitários. Uma simples garrafa PET exposta ao Sol durante
horas pode tornar a água mais limpa que complicados sistemas de
purificação [10]. Plantações usando técnicas milenares,
como plataformas em escadas, irrigação natural, reaproveitamento de
dejetos pode ter melhores resultados. E tudo pode ser feito de maneira
orgânica, usando técnicas provadas que são mais acessíveis do que
produtos patenteados, produtos tóxicos, que geram dependência, que geram
destruição do meio ambiente e cujo resultado quase sempre é nulo. Se
Bill Gates quer combater a fome no mundo ele certamente está indo pelo
pior caminho.