Escritor de ficção científica acertou em cheio na maior parte de suas previsões para o mundo contemporâneo
Isaac Asimov (1920-1992) é mais conhecido por seus livros "Eu, Robô" e "O Homem Bicentenário" Foto: Henrique Tramontina / Arte ZH
De fato, Asimov acertou tanto que ficamos tentados a pensar que, embora morto em 1992, ele na verdade está entre nós, observando a Terra do presente depois de viajar no tempo para escrever o seu artigo de meio século atrás. Olha só o poder de clarividência do homem:
XÔ, NATUREZA
Tokyo Convention & Visitor's Bureau / Divulgação
Asimov acertou em cheio: em 2014, continuamos a nos afastar da natureza, modificando cada vez mais o ambiente para suprir as nossas necessidades.
SMARTPHONES E TABLETS
Daniel Conzi / Agência RBS
O escritor fala que "painéis eletroluminosos serão de uso comum". Para concordar, basta saber que muita gente está lendo este texto em dispositivos móveis. Asimov previu que os telefones teriam videochamadas e telas nas quais poderíamos estudar documentos, olhar fotos e ler livros. E ele vai além: "As aplicações de 2014 não terão fiação elétrica, é claro." É claro! A segunda parte dessa previsão acerta em partes: depois de usadas, as baterias seriam necessariamente recolhidas pelos fabricantes para descarte. Nem sempre: tem quem faça coleção de baterias em casa ou jogue esses objetos no lixo comum, o que pode degradar o meio ambiente.
INSULFILM & CIA
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Dale de la Rey / AFP
Janelas, diz Asimov, vão bloquear a luz do sol. Em alguns casos, o vidro conseguirá se adequar à luminosidade externa para manter o ambiente sempre com a claridade desejada.
COZINHA INTELIGENTE
Camicado / Divulgação
Teremos "autolanches": equipamentos vão nos livrar da tarefa de preparar receitas como café e torradas. Lanches, almoços e jantas completos serão semipreparados e guardados no freezer. "Suspeito, entretanto", diz Asimov, "que até mesmo em 2014 será aconselhável ter um pequeno espaço da cozinha onde lanches mais individuais podem ser preparados a mão, especialmente quando visitas estão vindo". Sábio conselho!
ROBÔS, MAS POUCOS E DESASTRADOS
Yoshikazu Tsuno / AFP
"Robôs não serão comuns nem muito bons em 2014, mas existirão". Na mosca. Tá certo que Asimov achou que tradutores automáticos seriam algo de última geração, mas é verdade que um Google Translate está longe de ser tão esperto e sofisticado quanto a ferramenta que nos capacita para a linguagem, o cérebro. Outro acerto era mais barbada de prever: computadores miniaturizados serão os "cérebros" de robôs.
FILMES 3D
Rodrigo Philips / Agência RBS
Essa foi outra aposta fácil: a experimentação com a projeção de imagens 3D é coisa antiga, e na década de 1950 já havia audiências inteiras vestindo óculos especiais em salas de cinema.
ENERGIA SOLAR
Valery Hache / AFP
Asimov prevê grandes estações de energia solar em operação na Terra e também no espaço. Sabe de onde os satélites tiram energia? Isso mesmo: do Sol. E "fazendas de painéis solares" na Lua já estão sendo projetadas.
CARROS AUTÔNOMOS
Justin Sullivan / Getty Images / AFP
"Muito esforço será despendido na elaboração de veículos com 'cérebros--robôs' que possam ser programados para determinados destinos e que para lá irão sem a interferência dos reflexos lentos de um motorista humano". Já ouviu falar no Google Street View? Pois então: boa parte dos registros do Google são feitos a partir de carros autônomos, não-tripulados. E não se espante se, no ano que vem, alguma grande montadora anunciar um carro que te carrega sem precisar de ninguém ao volante.
SATÉLITES
Leonardo Azevedo / Arte ZH
"Satélites sincrônicos, pairando no espaço, vão possibilitar ligações diretas a qualquer ponto da Terra, incluindo estações na Antártica". Ok, Asimov, mas não vá dizer que tu esperavas por algo como o GPS!
SONDAS EM MARTE
NASA / JPL-Caltech/Univ. of Arizona
Repara na precisão da coisa: "Em 2014, apenas naves não-tripuladas terão aterrissado em Marte, apesar de uma expedição tripulada estar em desenvolvimento". O escritor americano anteviu até mesmo "modelos para uma elaborada colônia marciana", como o que fez com que milhares de pessoas a se candidatassem a um programa que oferece passagens sem volta ao Planeta Vermelho.
TVs: TELA 2D, IMAGEM 3D
Marina Goulart / Agência RBS
Asimov fala em "TVs de parede" (as nossas "telas-planas"), mas derrapa ao imaginar que precisaríamos de "cubos transparentes" para a projeção de imagens 3D. Tecnologia até existe, mas vai ser difícil vender ao consumidor a ideia de levar um cubo gigante para o centro da sala, né?
PLANETA LOTADO
AFP PHOTO/Punit PARANJPE
Asimov calcula: em 2014, a Terra abrigará 6,5 bilhões de pessoas, e os Estados Unidos serão o lar de 350 milhões delas. Errou por pouco: em 2008, o mundo somava 6,7 bilhões de seres humanos, e os EUA estão fechando 2013 com cerca de 317 milhões de habitantes. O escritor acertou ao prever um movimento internacional pelo controle de natalidade, sugerindo que em 2014 os índices de aumento populacional teriam recuado, embora "não o bastante".
CARNE ARTIFICIAL
David Parry / PA Wire
Asimov imagina em 2014 um bar de "algas" que entrega comida vegetariana com toda a pinta de um bife. Hoje, carne de soja bate ponto em tudo quanto é buffet a quilo, e ainda em 2013 foi degustado o primeiro hambúrguer criado em laboratório.
DESIGUALDADE SOCIAL
Gabriel de Paiva / Agência Globo
"Nem toda a população mundial vai desfrutar plenamente do mundo dos gadgets do futuro. Uma porção maior que a atual ficará de fora e, embora superior materialmente, estará mais atrás quando comparada com as porções avançadas do mundo. Terá andado para trás, relativamente". Touché.
IMPRESSÃO DE ÓRGÃOS
Reprodução / Youtube
Asimov fala em "aumento no uso de equipamentos mecânicos" para substituir órgãos como o coração e os rins, além de artérias e nervos. De fato, a Medicina vai por essa trilha, e em 2014 podemos esperar alguns desses órgãos fabricados por impressoras 3D! Como era de se esperar, Asimov também acerta ao prever que os avanços tecnológicos aumentariam a expectativa de vida em algumas partes do globo.
A MÁQUINA NO CENTRO
Reprodução / Instagram
Grande parte das tarefas será feita por máquinas, e a humanidade vai se render à tecnologia. A escola vai mudar, e os alunos aprenderão informática e serão mestres em aritmética binária e linguagens de programação - mais desenvolvidas, acrescenta Asimov, do que os códigos usados em 1964. Diz ele que "a humanidade vai sofrer terrivelmente da doença do tédio, uma doença que crescerá anualmente com intensidade cada vez maior. Isso terá sérias consequências mentais, emocionais e sociológicas, e ouso dizer que a psiquiatria será de longe a especialidade médica mais importante de 2014. Os poucos afortunados envolvidos em trabalhos criativos de qualquer tipo serão a elite da humanidade, porque apenas eles farão mais do que servir uma máquina." Vai um Rivotril aí?
MUNDO WORKAHOLIC
Divulgação/SXC
A distopia continua: Asimov antevê uma sociedade tão submetida ao "lazer forçado" que a "palavra mais gloriosa no vocabulário se tornará trabalho".
NADA DE GUERRA NUCLEAR
U.S. Army
Porque, se as promessas de destruição planetária da Guerra Fria se confirmassem, por que sequer tentar pensar em 2014, certo?
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ERROU RUDE
Nem os mestres da ficção científica são capazes de enxergar o futuro, e Asimov, compreensivelmente, viajou na maionese em alguns momentos, como estes:
CASAS COM PAREDES E TETOS BRILHANTESCom cores ajustáveis e tudo o mais. Seria o fim da discussão sobre a cor da tinta nas paredes internas, mas, pelo jeito, ninguém se interessou muito. À exceção, talvez, de algum quarto de motel.
PERIFERIA SUBTERRÂNEAJá previsto em 1927 pelo filme Metropolis, de Fritz Lang, que também errou - por enquanto. Segundo Asimov, a superfície seria reservada para agricultura de larga escala e parques, com menos espaço "desperdiçado" pela ocupação humana. O escritor também imagina cidades subaquáticas, o que só está perto de acontecer em alguns hotéis para gente muito milionária.
ESTRADAS EM BAIXA, TRÂNSITO DOS SONHOSAsimov não contava com a astúcia da indústria automobilística. Ele imaginou meios de transporte de atrito mínimo, jatos de ar comprimido que levariam os carros aos ares. As pontes seriam coisa de menor importância. Pois muito bem: acabamos de comemorar a inauguração de uma nova estrada com o requinte de uma ponte estaiada. Para os pedestres, Asimov queria "calçadas móveis" erguidas sobre as ruas e tubos de ar para o transporte de objetos. Quem sabe em 2024!
COLÔNIA LUNARO trânsito por lá voltou a ficar intenso, com a ida da China e a cobiça de empresas por recursos naturais, mas estabelecer uma colônia ainda parece ficção científica.