Romeu Tuma Junior, 53 anos, é o homem da vez no mercado editorial e no centro do Poder.
Autor de “Assassinato de Reputações”,
livro-bomba sobre as acusações – nunca comprovadas – de seu envolvimento
com Paulo Li, supostamente envolvido com a máfia chinesa – outra
acusação que jamais se revelou verdadeira -, Tuma Junior alterou a ordem
de prioridades do Palácio do Planalto ao revelar diversas práticas do
Governo Federal e das personagens mais influentes do Partido dos
Trabalhadores.
Nesta entrevista exclusiva, concedida ao
Vox na última semana, ele detalha as barreiras impostas à sua obra. Das
cópias piratas às ameaças sofridas por sua família.
Explica, também, as técnicas do “Estado
Policial” criado a partir do aparelhamento da Polícia Federal e a
participação de jornalistas no esquema. Seu conhecimento demonstra uma
grave inversão de práticas e valores, engendrada para prejudicar os
opositores dos governantes.
Primeira autoridade a acompanhar o caso Celso Daniel, o filho do ex-senador Romeu Tuma compartilhou um novo detalhe
sobre o crime, ainda sem solução, e informou novamente o Ministério Público sobre a testemunha que
avistou carros da Prefeitura de Santo André horas antes do descarte do corpo do ex-prefeito de Santo André, peça importante na campanha de Lula em 2002.
Confira, a partir de agora, a íntegra
desta conversa, que prenuncia a existência de novos documentos e um tomo
– isto é, um volume extra – de “Assassinato de Reputações”.
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“Assassinato de
Reputações” está entre os mais vendidos da Publish News desde a primeira
tiragem. Em diversas semanas, ficou atrás apenas de publicações de
líderes religiosos, como Padre Marcelo Rossi e Bispo Edir Macedo.
Surpreendeu toda essa receptividade?
Romeu Tuma Junior – Sem dúvida. Isso mostra o
quanto a sociedade está ávida por conhecer os bastidores do Poder. É um
péssimo sinal de que nossos mecanismos de transparência pública, na
prática, não funcionam.
Já são registradas ocorrências
de cópias piratas de seu livro. Você teve acesso a alguma delas? Que
mudanças são produzidas nessas edições?
Segundo a Editora me informou, alteraram o conteúdo, subtraindo documentos e textos.
Cessaram os boicotes das livrarias?
Não tenho essa informação. Mas, pelo que percebo, em algumas não.
Você sofreu alguma ameaça após o lançamento de “Assassinato de Reputações”?
Não vou detalhar por questão de segurança, mas minha família sim.
Após
a publicação de “Assassinato de Reputações”, Mino Carta criticou
duramente Romeu Tuma Junior na “Carta Capital”. Uma carta foi enviada à
revista, mas não foi publicada, segundo o entrevistado.
(Reprodução/Paulo Guimarães)
Muitos leitores interpretaram
como ironia os agradecimentos a Mino Carta e Paulo Henrique Amorim por
entenderem que eles são profissionais simpatizantes do governo petista.
Foi mesmo uma provocação sua?
Não houve isso. Eu agradeci por educação e porque eles
efetivamente participaram da ideia, do roteiro e de várias entrevistas
que geraram os textos de alguns capítulos, inclusive escritos,
inicialmente, por eles. Como eu comecei a obra com eles e terminei com o
Tognolli, achei honesto e justo dar o crédito em forma de
agradecimento. Fui tão correto que delimitei no agradecimento onde eles
participaram.
À época da divulgação de seu
livro, Carta escreveu um artigo raivoso contra você. Paulo Henrique
Amorim sinalizou processá-lo. Algum dos dois tentou contato?
O Mino esteve com meu irmão para explicar ou justificar aquele
artigo. Acho que ele sofreu forte pressão para reagir. Eu lamento que
mandei uma carta em resposta e a revista não teve a dignidade de sequer
mencioná-la. Eles pregam “a lei de meios” e agem como os que criticam!
Quanto ao blogueiro que ameaçou processar-me, sem comentários!
Romeu
Tuma Junior revelou que Lula era informante do DOPS.
Seu codinome era
“Barba”. As dicas do ex-presidente ajudavam
o governo, na época, a
evitar a depredação de bens públicos e
privados em protestos.
(Reprodução/Arquivo Pessoal)
A revelação do “Barba”,
codinome de Lula durante a ditadura militar, causou incredulidade entre
políticos e intelectuais. Muitas pessoas defenderam publicamente o
ex-presidente, mas ele mesmo evitou declarações sobre o assunto. O
silêncio era a resposta que você esperava?
Francamente, escrevi o livro porque procurei diversos meios
para me defender do crime que fui vítima e ninguém me deu chance de
falar. Nem a Justiça, que me dizia que eu “não era investigado”. Ora, eu
acusado pela imprensa e não era investigado! Como não consegui falar,
resolvi escrever. Então, para poder explicar porque fizeram aquilo
comigo, precisei mostrar como era minha relação com o ex-presidente, e
como cheguei e fui tirado do governo. Só tem a Reputação Assassinada
quem a tem, então precisei mostrar a minha história com o “Barba” e com o
Presidente Lula. Respondendo objetivamente, não me preocupei com a
reação, porque apenas relatei fatos verdadeiros que a História precisava
ter registrado. Ele sabe disso, por isso talvez não tenha o que falar.
Protógenes Queiroz pediu, via
Twitter, ajuda da Procuradoria-Geral da República porque havia uma
investigação clandestina contra ele. Seu livro tem dezenas de páginas
dedicadas ao aparelhamento da Polícia Federal. O pedido causa estranheza
a você?
Se ele está dizendo, deve saber o que ocorre. Na condição de
Deputado, deveria oficiar a Procuradoria-Geral da República e requerer
informações da Polícia Federal e do próprio Ministério da Justiça. Não
pode prevaricar. Na minha opinião, o Twitter não é o melhor caminho para
alguém com as prerrogativas, deveres e obrigações dele.
Os grampos dos ministros do STF ocorreram durante o julgamento do Mensalão? Quem operava esses grampos?
Agentes públicos e agentes terceirizados que prestavam serviços para autoridades do poder executivo.
Protógenes
Queiroz afirmou, no Twitter, ser vítima de uma investigação clandestina
da Polícia Federal. No livro, Romeu Tuma Junior detalha o “Estado
Policial” que afirma existir no Brasil e as operações de espionagem que
acometeram ministros dos STF. Ao Vox, ele revelou quem realizava as
gravações durante o julgamento do “Mensalão”. (Reprodução/O Globo)
Ainda pelo Twitter, Protógenes afirmou nunca pensar que você “iria se revelar”. O que ele quis dizer com isso?
Não tenho a menor ideia. Eu sempre me revelei transparente e
sincero. Sempre estive ao lado da verdade e da Justiça. Encontrei com
ele no Congresso Nacional, no segundo semestre do ano passado, quando já
havia saído notícias do livro e ele me elogiou muito perante alguns
Deputados e outras pessoas. Talvez tenha sido um elogio por eu ter
escrito o livro e dito a verdade!
Assim é descrita a relação entre
imprensa e Polícia Federal em “Assassinato de Reputações”: antes, o
jornalista esperava o trabalho da Polícia Federal para esquentar a
reportagem. Agora, a Polícia Federal espera o trabalho do jornalista
para esquentar a investigação, cujo alvo é, invariavelmente, um
opositor. Onde estão esses jornalistas?
Em várias redações, blogs sujos, enfim, em vários lugares.
Alguns são usados, outros estão a serviço da prática! É a “condenação”
mais fácil de impor a um adversário. No STG – Supremo Tribunal do Google
-, não precisa de provas e a prisão é perpétua sem chance de recurso.
Pena moral é pena de morte!
O PT transferiu para as
administrações municipais e estaduais essa dobradinha entre jornalismo e
investigações contra os inimigos?
Isso é uma prática do Estado Policial. Uma vez instalado, ele
se dissemina. Especialmente, quando você instrumentaliza administrações
estaduais e municipais com pessoas que “fizeram escola” na administração
federal.
Com a saída de Lula e a entrada
de Dilma, a Polícia Federal deixou de ser uma polícia que “grampeia as
pessoas, seleciona trechos de conversas, pinça frases, descontextualiza
diálogos, cria enredos e manda gente para a prisão por achismo e
dedução”?
Não. Estruturalmente, a DIP (Divisão de Inteligência Policial –
BSB) e os SIPs (Setor de Inteligência Policial – nas SRs) continuam
fazendo inquérito, o que é instrumento de Estado Policial. E o “Método
Científico Cronológico Dedutivo”, além dos anômalos Procedimentos
Criminais Diversos, continuam existindo.
O Registro de Identidade Civil,
em sua proposta de reunir os dados dos cidadãos em uma central única,
era o Big Brother petista? Nenhuma secretaria de segurança ou governo
estadual estranhou a ideia?
Somente alguns chefes das Polícias Civis tiveram a coragem de reagir, mas foram “fritados”.
Gilberto Carvalho é o protagonista de seu capítulo sobre a morte do ex-prefeito Celso Daniel. Ele tentou processá-lo?
Desconheço.
Romeu
Tuma Junior realizou uma extensa investigação sobre o caso Celso
Daniel. No livro, ele cita que o celular de um então deputado estadual
foi interceptado na área em que o cadáver de Celso Daniel foi
abandonado. Ao Vox, ele revelou que o referido personagem ainda está no
meio político. (Epitácio Pessoa/AE)
Você tem o depoimento de uma
testemunha que garante ter avistado carros da prefeitura de Santo André
no local em que o corpo de Celso Daniel foi descartado. Tem interesse em
retomar essa investigação, se fosse possível?
Tomei providência novamente. Comuniquei o Ministério Público.
Um organograma no livro revela
18 fatos sobre o caso Celso Daniel. Um deles descreve a presença do
celular de um então deputado estadual petista nas imediações do local do
crime. Esse deputado desempenha papel importante no PT ou em um de seus
governos atualmente?
Parece-me que é prefeito na Grande São Paulo.
Você descreve o Rosegate como
“um escândalo inédito na história do país, envolvendo sexo, traição,
dinheiro, desvios de comportamento, desmandos e abusos dignos de uma
produção hollywoodiana”. Que produção poderia ser?
Acho que seria inédita.
Romeu
Tuma Junior relata, em “Assassinato de Reputações”, que Luiz Fernando
Corrêa era intocável porque ele possuía “umas fotos do presidente”.
Informação foi transmitida pelo ministro Luiz Paulo Barreto. (Fábio
Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
O ministro Luiz Paulo Barreto
lhe reportou que nada acontecia ao ex-diretor-geral da Polícia Federal,
Luiz Fernando Corrêa, porque ele “tem umas fotos do presidente”. Essas
fotos têm algo a ver com Rosemary Noronha?
Existem muitos fatos e documentos não apresentados e/ou
revelados no livro por diversas questões. Inclusive humanitárias,
familiares e religiosas. Mas todos ainda estão sob análise.
No dia 19 de janeiro, um
seguidor do seu Twitter comentou contigo a proximidade da Friboi na
campanha de Dilma Rousseff. Você disse que, se estourasse o assunto,
todos conheceriam a maior lavanderia da América Latina. Esse assunto
incomodava o Planalto?
É muito difícil hoje saber o que mais incomoda o Planalto. Eu
arriscaria dizer que o que mais preocupa o pessoal do Planalto é
reeleger a Dilma, custe o que custar!
Uma segunda edição de “Assassinato de Reputações” está entre seus planos?
Avalio a possibilidade de um Tomo 2.
FONTE: http://noticias.voxbr.com/politica/exclusivo-romeu-tuma-junior-revela-novos-detalhes-sobre-celso-daniel-e-o-palacio-do-planalto/