Um fenômeno já
famigerado na internet e estabilizado no Facebook passou a se tornar
mais explícito, nas últimas semanas, no Facebook: o uso de "bots" (do
inglês "robots"), robôs guiados por mecanismos programáticos,
possibilitando a ação simultânea de milhares ou até milhões de contas
sob diversas maneiras.
Popularizados
no sistema IRC, eram comumente utilizados em Flood Atacks (ataques de
massa pelo envio de mensagens, bem como pela entrada ou saída de uma
rede ou canal, ocasionando a queda de uma rede com sistema insuficiente
para resistir). Os serviços eram contratados ou desempenhados pelo
próprio interessado na ação, seja ele um concorrente, cracker ou até
mesmo um curioso disposto a testar técnicas e "vandalizar" espaços
virtuais.
Com o advento
das redes sociais, bem como da evolução de sistemas de segurança e
criação de contas, o uso de bots passou a se aperfeiçoar. Ainda que
coarctados pela experiência adquirida desde então, novas evidências
sugerem um mercado subterrâneo milionário - responsável pelo abrupto
crescimento de páginas ou pela derrubada de outras por meio de denúncias
em massa.
No
cenário político nacional, páginas de ativistas políticos tem sido,
recentemente, alvo de ataques concomitantes de centenas ou mesmo
milhares de bots. Por meio de denúncias em massa ou pela inserção de
conteúdo abusivo em cometários em murais, páginas e perfis de relevância
social tem sofrido com a ação de tais criminosos virtuais, dispostos a
fraudar e sabotar iniciativas diretamente ligadas à liberdade de
expressão legítima e espontânea.
A página TV
Revolta noticiou um recente ataque, produzindo provas. Alguns bots
chegam a ter quase 5 milhões de seguidores, sugerindo a possibilidade de
uma enorme gama de estruturas de manipulação cibernética, tanto por
hackings quanto pela produtividade de perfis.
Conforme
relatado pelos administradores de página, há dias em que algumas
postagens chegam a receber mais de quatro mil comentários com o mesmo
texto ou imagem em poucos segundos.
De acordo com o
algoritmo da rede social Facebook, o excesso de denúncias a um post
implica o corte de seu alcance, para a preservação tanto da página
quanto do bem-estar dos usuários.
Dessa maneira,
um detentor de um grande aparato ou "exército" de robôs pode "dominar" a
rede, decidindo qual página será excluída, qual postagem será
indiretamente censurada, pelo corte de seu alcance, ou qual imagem será
excluída pelo excesso de denúncias, aproveitando-se de sistemas
automáticos das redes sociais. Tais usos têm causado, sobretudo nos
últimos dois meses, grande insegurança no meio político atuante nas
redes sociais, com a exclusão de diversas páginas de oposição ao
governo.
Tendo em vista a
capacidade de, pelo incômodo, inviabilizar a interação e o
funcionamento de páginas, bem como, por denúncias, causar a exclusão e o
bloqueio de links, imagens, compartilhamentos de status e mesmo
enquetes, os serviços tornaram-se caros e o mercado dominado por máfias
de alcance internacional e, em geral, origem produtiva, conforme
pesquisas, na Índia, na Turquia e na Nigéria.
Por dentro do "mercado"
Após intensa
pesquisa, a equipe Folha Política conseguiu contatar, com exclusividade,
um dos mercadores de bots para obter mais informações a respeito deste
mundo subterrâneo. O perfil, que utilizava nomes e imagens nitidamente
falsos, comunicou que os preços podem ser cobrados por serviço ou por
venda.
"Vocês tem que
ver o que vocês querem, se é entrar no jogo ou serviço. A gente
denuncia, flooda, derruba, levanta, tudo isso que você sabe. O preço
varia com a quantidade que você vai querer. A gente pode upar tua página
com uns 200 mil seguidores por mil dólares agora, se tu quiser. Só
distribui por uma semana para disfarçar, se não embaça com os caras do
Facebook"[editado para correções ortográficas], afirmou.
Questionado
sobre como censurar, bloquear ou excluir páginas de adversários e se o
sistema era eficiente, afirmou: "Mano, o Facebook tem mais de um bilhão
de usuários, o bagulho funciona bem e passa batido e suave. A gente já
derrubou XXX, XXX, XXX, tudo isso foi nós (sic). Tu acha que eles
conseguem analisar cada denúncia? A gente enfia 3 mil denúncias numa
página, das milhões que tem, derruba rapidinho, os caras não vão
analisar tudo. Se voltar depois, fica pelo menos umas 2 semanas
derrubada".
Os ativistas
afirmam estar entrando em contato direto com a Polícia Federal para
apurar o caso e prevenir o Facebook quanto à burla de seus sistemas de
segurança, de modo a garantir a liberdade de expressão e a segurança
jurídica quanto a seus meios de comunicação e interação política na
internet.
Redação
Folha Política