Michael Daniel. Imagem: Georgetown/Edu |
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BRAZIL NEWS
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POLITICA: EUA dizem que discurso contra espionagem é desculpa para governos controlarem a internet
O chefe da
delegação americana na NETMundial, Michael Daniel, coordenador de
Segurança Cibernética da Casa Branca, saudou a adoção do principio
multissetorial (multistakeholder) pelo evento organizado pelo Brasil.
Mas questionou "alguns que gostariam de usar as recentes revelações
sobre nossos programas de vigilância de sinais como desculpa para
derrubar a abordagem multissetorial, em favor de um sistema estatal,
dominado por governos".
Imediatamente antes de Daniel, com posição contrária, haviam falado no
evento os representantes da Arábia Saudita e da Rússia, em defesa da
determinação de um papel para o Estado no documento final da
NetMundial.
O ministro russo de Comunicações, Nikolai Nikiforov, questionou
diretamente a Icann, órgão de governança da internet hoje ainda
vinculado ao governo americano e que, tornado independente, serviria de
base para um sistema multissetorial.
Daniel, em posição também sustentada pelo ministro sueco do exterior,
Carl Bildt, defendeu que a governança continue multissetorial para
seguir estimulando a "inovação" na internet.
O representante americano observou, por outro lado: "Não se deve duvidar
de que tomamos seriamente as preocupações levantadas como resultado das
revelações não-autorizadas [de Edward Snowden]. E continuamos a adotar
reformas significativas em conexão com nossas atividades de
inteligência".
Mais à tarde, em outro debate e dirigindo-se publicamente à direção da
NETMundial, um integrante da comissão russa foi mais duro.
"Na minha visão, estamos lidando com um dos documentos mais sem
transparência que já vi na vida. Porque não é claro como comentários são
levados em conta ou não levados em conta. E correções sérias ao texto
não serão permitidas. Infelizmente, meu país teve duas contribuições que
não foram levadas em conta e não serão. Não está claro que tipo de
mandato tem a comissão de alto nível [que define o que entra no
documento]. Temos que lembrar de Edward Snowden e da transparência [que
ele representa e inspirou a NetMundial]", disse.
Ao comentar a posição da Rússia, Zahid Jamil, membro do comitê executivo
da Icann, disse que as intervenções do país não foram levadas em conta
no documento base porque acabaram sendo feitas fora de hora. "Se
levássemos os comentários russos [que chegaram fora de hora] em conta,
eles teriam um tratamento diferente em relação a outros atrasados",
disse.
Procurados pela Folha, os representantes russos disseram que iriam se
reunir para decidir sua estratégia e não se pronunciariam oficialmente.
"Nós consideramos todas as propostas que vieram em fevereiro, da França,
dos Estados Unidos, da Alemanha, da China, do Google, do Facebook, da
Microsoft", disse o presidente da NETMundial, Virgílio Almeida, à
Folha.
ENCONTRO
O NETMundial, que ocorre hoje e amanhã em São Paulo com participação de
mais de 80 países, tem representantes da sociedade civil, academia,
governos e do setor privado para pensar, entre outras coisas, como
estabelecer um controle mais global -leia-se menos concentrado nos EUA-
da rede mundial.
Foi idealizada pelo governo brasileiro e pela Icann em resposta às
denúncias de que os EUA teriam usado a rede para espionar autoridades e
empresas do mundo todo, inclusive Dilma e a Petrobras.
FONTE: Nelson de Sá
Folha de S. Paulo
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